Safra de inverno na região tem produção acima da média no PR
Plantação de grãos foi reduzida em todo o Estado nesta safra de inverno 2024. Condições climáticas também não foram favoráveis
Publicado: 13/12/2024, 01:23
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região e a cevada teve queda na produção"
As condições climáticas foram desfavoráveis para a produção dos cultivares de inverno não só na região dos Campos Gerais, mas em todo o Paraná na safra 2024. A maioria das regionais paranaenses registrou grande quebra na produção, principalmente por dois fatores: um período de estiagem e duas fortes geadas, no final do mês de agosto, época em que os cultivares já estão mais sensíveis às temperaturas negativas. Na regional de Ponta Grossa do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (SEAB), a quebra no trigo, por exemplo, que é o principal produto plantado, gira em torno dos 30% em relação ao inicialmente esperado, segundo os dados preliminares. Ainda assim, os municípios dos Campos Gerais e Centro Sul produziram, em média, um total de 592 mil toneladas de grãos - o balanço final ainda não tinha sido fechado pela regional até o fechamento dessa edição.
Em âmbito estadual, foram produzidas 2,35 milhões de toneladas de trigo, valor que caiu 36% em relação aos 3,65 milhões de toneladas produzidas na safra de 2023. Parte dessa retração é justificada pela redução na área plantada, de 1,13 milhão de hectares, contra 1,38 milhão de hectares na safra anterior, e o restante pelas condições climáticas, que derrubaram o rendimento médio por hectare de 2,63 mil quilos por hectare para 2,07 mil quilos por hectare. Os municípios dos Campos Gerais tiveram uma baixa de 15% no rendimento médio, de 3,21 mil quilos por hectare para 2,74 mil quilos por hectare, mas ainda assim, foi uma produtividade 34% superior à média estadual.
A área plantada na regional de Ponta Grossa em 2023, de 167,7 mil hectares, foi reduzida para 124,3 mil hectares, em uma baixa de 26%. Com isso, a produção total caiu de 539,3 mil hectares, em 2023, para cerca de 321 mil hectares em 2024. “Houve uma quebra considerável no rendimento, com mais de 30% em relação ao inicialmente esperado. Isso aconteceu por dois problemas: estiagem em agosto e duas geadas no final de agosto, o que afetou bastante várias áreas dos municípios mais ao Sul da regional”, informa Luiz Alberto Vantroba, economista do núcleo regional de Ponta Grossa do Departamento de Economia Rural, vinculado à SEAB.
De acordo com Vantroba, para algumas propriedades rurais, os danos foram tão acentuados que houve o registro de perda total. “Só de área perdida totalmente, tivemos 7,6 mil hectares na região, em que o produtor não colheu ou passou o rolo e depois plantou soja. Teve produtor com até 50% de perdas também”, explicou o economista. Se os produtores dos municípios mais ao Sul da regional sofreram com a geada, que foi bastante irregular, conforme a altitude das áreas (as mais baixas foram mais afetadas), nos mais ao Norte as maiores perdas foram por conta da estiagem.
A queda da área plantada de trigo, de 43,4 mil hectares em relação à safra passada, aconteceu, entre outros motivos, pela frustração da safra anterior, explicou o economista Luiz Alberto Vantroba. “A redução se deu principalmente pela frustração da safra passada. No trigo, a produtividade não foi tão ruim ano passado, mas a qualidade não foi boa: menos de 50% passou para pão (que são os grãos em melhores condições, dentro das métricas exigidas). O resto foi para outros usos. Então houve um desencanto muito grande, vamos dizer assim, pelos produtores, e por isso reduziu tanto a área”, explica o especialista.
CENTRO-SUL
Na região de Irati, entretanto, a produtividade foi a maior do estado, estimada em 3.762 quilos por hectare, um rendimento 44% superior à média de 2,6 mil na safra anterior. Esse rendimento, no entanto, foi obtido em uma área três vezes menor em relação à safra anterior: se em 2023 foram plantados 28,6 mil hectares com o trigo na regional Centro-Sul, em 2024 esse valor caiu para 9 mil. Vantroba explica que o rendimento mais alto da regional de Irati ocorreu porque o plantio iniciou um pouco mais tarde e, com isso, a geada não impactou tanto nos cultivares.
Janela de plantio definiu a produtividade no trigo
A média de produtividade variou bastante na região, conforme a época do plantio. Quem plantou no final da janela, obteve rendimentos superiores. Um desses bons exemplos foi obtido pela CT Agro, holding rural agrícola que administra a fazenda Campina do Tigre, localizada em Teixeira Soares. Márcio Krzyuy, que comanda a CT Agro, explica que pelo cenário econômico nacional e internacional, reduziu em 60% as áreas plantadas em relação às safras anteriores, optando por plantar apenas trigo. Mas sua colheita foi de alta produção, com alta qualidade. “Estamos felizes, porque eu colhi em torno de 74 sacas por hectare líquido (4.440 quilos por hectare), e 100% do trigo de primeira qualidade”, disse ele.
Márcio acredita que essa qualidade foi obtida por dois fatores: época do plantio e manejo. “Eu atrasei o plantio, fui um dos últimos a plantar – tanto que terminei de colher em novembro. Então quando deu a geada, o meu trigo estava perfilhando, então foi sorte e estratégia. E outro fator foi o uso da tecnologia UAN (ureia nitrato de amônio líquido), que segurou a produção”, explica.
O produtor rural Edilson Gorte, da Fazenda Dona Mathilde, também teve uma safra positiva. Depois de uma safra com perda total em 2023, devido ao excesso de chuvas, neste ano teve uma colheita na média de 3 mil quilos por hectare, com trigo 100% de 1ª qualidade. “Eu plantei um pouco mais tarde que a abertura da janela. Do primeiro ao último trigo plantado, deu 28 dias de diferença. Os primeiros fecharam com média de 2,6 mil a 2,7 mil kg/ha, com qualidade excelente. E conforme foi indo, a qualidade não se manteve, mas a produção aumentou”, explicou.
Quebra na cevada foi superior a 20% nos Campos Gerais
Os produtores dos municípios dos Campos Gerais também sofreram com a cevada, hoje o segundo principal produto cultivado na região no inverno. O Departamento de Economia Rural (Deral) lançou uma estimativa inicial que a região iria colher uma média de 4,1 mil quilos por hectare de cevada, mas no último levantamento divulgado, já perto do fim da colheita, essa média caiu para 3,2 mil hectares, o que equivale a uma perda de 900 quilos por hectare. Isso significa uma quebra superior a 20%.
De modo geral, a safra de cevada foi bastante irregular, explica o economista Luiz Alberto Vantroba, pelo fato de que, conforme o município e a época plantada, houve casos de produtor que perdeu tudo, e outros que tiveram um rendimento acima da expectativa do Deral. Essa irregularidade aconteceu por dois fatores, detalha o economista. “A cevada foi difícil, porque assim como teve gente que colheu bem, teve gente que não colheu nada. Teve região que sofreu com a geada fora de época, e teve região que sofreu com a estiagem. Então também teve produtor colhendo melhor, chegando a 4,4 mil quilos por hectare, em Palmeira, por exemplo”, destaca.
Vantroba relatou que a geada não é uniforme, e que em uma mesma propriedade, dependendo da altitude, pode ter bastante diferença de produtividade. “Teve produtor que, em áreas de baixada, colheu mal, e nas mais altas, colheu bem. E nos municípios mais ao Norte, como Arapoti e Tibagi sofreram com a seca e isso afetou a produtividade. Em Ponta Grossa, por exemplo, choveu só 36 milímetros, em um mês que chove, em média 100 milímetros”, recorda Vantroba. “Com tudo isso, foi diferente em relação ao ano passado: em 2023, a produtividade foi melhor, mas a qualidade foi péssima. E nesse ano, a produtividade não é boa, mas a qualidade está melhor”, conclui.